“...aquele
outono no nosso País era mais cinza do que o normal e as folhas não caiam só
por ação dos ventos, mas também de tristeza pelos maus dias que vivia o Mundo.
As bombas que derrubavam galhos e troncos com suas raízes no velho mundo
repercutiam em todos os cantos...a natureza e as pessoas choravam suas perdas;
porem com o mês de Maio veio o dia “D” que trouxe promessas de um mundo melhor,
até que enfim os homens estavam se entendendo, ou pelo menos estavam
tentando...”
Esse era o quadro mundial em 1945, terminava a segunda grande
guerra e com a vitória dos aliados o mundo tomava novos rumos, recomeço,
reconstrução, nova vida... e neste quadro a supremacia americana começou a se
instalar pelos quatro cantos do universo. Até a velha e tradicional Europa se
rendia aos apelos comerciais e culturais que eram despejados feito avalanche
interferindo nas tradições milenares, culturas e costumes nativos.
Aqui no nosso Brasil não foi diferente, correntes fortes e
influentes defendiam a “americanização” da nossa cultura e foi tão
significativa essa intromissão cultural que até hoje, mais de 75 anos passados,
grande parte do nosso País ainda usa como vestimenta tradicional rural, calças
de jeans, chapéus de cowboy, cintos com grandes fivelas para segurar calças
justas e celas estilo americanas nos seus cavalos. Festas regionais
tornaram-se, “Rodeios Country” onde vaqueiros montam em touros ostentando
indumentárias de outras culturas.
Porem algumas manifestações regionais brasileiras
sobreviveram à esses tempos, o Vaqueiro Nordestino, que do fundo das Caatingas
conseguiu manter suas origens e valores tradicionais até os dias de hoje, mas
que infelizmente esta agonizando e se debatendo contra a influencia que vem lhe
“cutucando a paleta” nestes anos. Hoje
chapéu de couro e gibão, são praticamente peças de museu, ou de algum Vaqueiro
mais tradicional, ou ainda de alguma manifestação folclórica que consegue ainda
se manter viva. Quem for assistir uma “Vaquejada” (manifestação tradicional dos
vaqueiros), dificilmente vai encontrar um vaqueiro típico, o que impera são os
chapéus estilo americanos e os bonés, sem falar na vestimenta e encilhas,
calças jeans e camisas espalhafatosas montando encilhas nada típicas do Nordeste.
Outra Cultura regional expressiva e importante em grande
parte do Brasil que conseguiu se manter por um bom tempo, foi o Caipira, esse
sim, hoje foi totalmente engolido pelas influencias externas virando “um tal de
estilo sertanejo”, que ninguém sabe ao certo definir o que é..., criando uma verdadeira confusão cultural que
praticamente terminou com as manifestações nativas do centro do País por ação
das grandes mídias, pelo materialismo comercial e por seres totalmente
descompromissados com os valores culturais e tradicionais dos povos e que usam
a desculpa da modernização e evolução dos tempos para matarem suas raízes
culturais.
Foi neste quadro de invasão cultural que tentava impor usos e
costumes estrangeiros ao povo brasileiro que surgiu aqui no Rio Grande uma
saudável rebelião em prol da preservação da cultura gaúcha, dos nossos usos e
costumes, das nossas raízes e principalmente da nossa identidade, tudo sob o
comando de um jovem visionário e preocupado com o que estava se perdendo, teve
inicio então o Movimento Tradicionalista Gaúcho, que começou a se organizar em
busca de uma estrutura solida e duradoura, visando preservar para sempre a
figura do homem campeiro do Rio Grande do Sul e de suas tradições, O Gaúcho
Rio-grandense.
Em 1947, dois anos após o término da grande guerra, sob o
comando de João Carlos Paixão Cortês iniciou-se o que alguns dizem ser o maior
movimento sociocultural que se tem conhecimento, um ano após foi fundado o
primeiro CTG (Centro de Tradições Gaúchas), em seguida vários outros foram se
formando por todo o Estado do Rio Grande do Sul e já em 1954, seis anos após a
fundação do “35 CTG” em torno de quarenta entidades compunham o movimento que
se organizava, doze anos mais, 1966 era criado o órgão federativo, MTG
(Movimento Tradicionalista Gaúcho), a Federação Tradicionalista que visava
congregar todos os CTGs já existentes no Estado e hoje, com 58 anos de fundação conta com mais de 1700 Entidades tradicionalistas
filadas.
- Esse trabalho relata fatos e registros históricos, é uma
coletânea de passagens que contam essa historia, de como tudo começou e a
trajetória desse Movimento ao longo dos últimos 77 anos, ressaltando os legados
que aquela iniciativa de 1947 liderada por Paixão Cortes nos deixou e de como
nós Tradicionalistas conseguimos manter tudo isso tão vivo e pujante por todo
esse tempo, registrando nomes e fatos vividos por quem participou diretamente
dessa história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário