13 outubro 2024

1945

 

“...aquele outono no nosso País era mais cinza do que o normal e as folhas não caiam só por ação dos ventos, mas também de tristeza pelos maus dias que vivia o Mundo. As bombas que derrubavam galhos e troncos com suas raízes no velho mundo repercutiam em todos os cantos...a natureza e as pessoas choravam suas perdas; porem com o mês de Maio veio o dia “D” que trouxe promessas de um mundo melhor, até que enfim os homens estavam se entendendo, ou pelo menos estavam tentando...”

Esse era o quadro mundial em 1945, terminava a segunda grande guerra e com a vitória dos aliados o mundo tomava novos rumos, recomeço, reconstrução, nova vida... e neste quadro a supremacia americana começou a se instalar pelos quatro cantos do universo. Até a velha e tradicional Europa se rendia aos apelos comerciais e culturais que eram despejados feito avalanche interferindo nas tradições milenares, culturas e costumes nativos.

Aqui no nosso Brasil não foi diferente, correntes fortes e influentes defendiam a “americanização” da nossa cultura e foi tão significativa essa intromissão cultural que até hoje, mais de 75 anos passados, grande parte do nosso País ainda usa como vestimenta tradicional rural, calças de jeans, chapéus de cowboy, cintos com grandes fivelas para segurar calças justas e celas estilo americanas nos seus cavalos. Festas regionais tornaram-se, “Rodeios Country” onde vaqueiros montam em touros ostentando indumentárias de outras culturas.

Porem algumas manifestações regionais brasileiras sobreviveram à esses tempos, o Vaqueiro Nordestino, que do fundo das Caatingas conseguiu manter suas origens e valores tradicionais até os dias de hoje, mas que infelizmente esta agonizando e se debatendo contra a influencia que vem lhe “cutucando a paleta” nestes anos.  Hoje chapéu de couro e gibão, são praticamente peças de museu, ou de algum Vaqueiro mais tradicional, ou ainda de alguma manifestação folclórica que consegue ainda se manter viva. Quem for assistir uma “Vaquejada” (manifestação tradicional dos vaqueiros), dificilmente vai encontrar um vaqueiro típico, o que impera são os chapéus estilo americanos e os bonés, sem falar na vestimenta e encilhas, calças jeans e camisas espalhafatosas montando encilhas nada típicas do Nordeste.

Outra Cultura regional expressiva e importante em grande parte do Brasil que conseguiu se manter por um bom tempo, foi o Caipira, esse sim, hoje foi totalmente engolido pelas influencias externas virando “um tal de estilo sertanejo”, que ninguém sabe ao certo definir o que é...,  criando uma verdadeira confusão cultural que praticamente terminou com as manifestações nativas do centro do País por ação das grandes mídias, pelo materialismo comercial e por seres totalmente descompromissados com os valores culturais e tradicionais dos povos e que usam a desculpa da modernização e evolução dos tempos para matarem suas raízes culturais.

Foi neste quadro de invasão cultural que tentava impor usos e costumes estrangeiros ao povo brasileiro que surgiu aqui no Rio Grande uma saudável rebelião em prol da preservação da cultura gaúcha, dos nossos usos e costumes, das nossas raízes e principalmente da nossa identidade, tudo sob o comando de um jovem visionário e preocupado com o que estava se perdendo, teve inicio então o Movimento Tradicionalista Gaúcho, que começou a se organizar em busca de uma estrutura solida e duradoura, visando preservar para sempre a figura do homem campeiro do Rio Grande do Sul e de suas tradições, O Gaúcho Rio-grandense.

Em 1947, dois anos após o término da grande guerra, sob o comando de João Carlos Paixão Cortês iniciou-se o que alguns dizem ser o maior movimento sociocultural que se tem conhecimento, um ano após foi fundado o primeiro CTG (Centro de Tradições Gaúchas), em seguida vários outros foram se formando por todo o Estado do Rio Grande do Sul e já em 1954, seis anos após a fundação do “35 CTG” em torno de quarenta entidades compunham o movimento que se organizava, doze anos mais, 1966 era criado o órgão federativo, MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho), a Federação Tradicionalista que visava congregar todos os CTGs já existentes no Estado e hoje, com 58 anos de fundação  conta com mais de 1700 Entidades tradicionalistas filadas.

- Esse trabalho relata fatos e registros históricos, é uma coletânea de passagens que contam essa historia, de como tudo começou e a trajetória desse Movimento ao longo dos últimos 77 anos, ressaltando os legados que aquela iniciativa de 1947 liderada por Paixão Cortes nos deixou e de como nós Tradicionalistas conseguimos manter tudo isso tão vivo e pujante por todo esse tempo, registrando nomes e fatos vividos por quem participou diretamente dessa história.

 

                                                                                                                

 

 

 

 

 

 

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