13 outubro 2024

DECADA DE 40

 

DECADA DE 40 – PANORAMAS DO ESTADO E PAÍS

 

“....No meio rural, o homem da campanha sabia até onde podia chegar, quando se aproximava da cidade: apeava do pingo, tirava as botas, as esporas, a bombacha, lavava-se numa sanga, vestia uma calça corrida, calçava um par de sapatos apertados e bicudos, que levava escondido debaixo dos pelegos para entrar no povoado. O peão de estância era pouco considerado, ser um bom ginete, um guasqueiro – artesão de qualidade – um lavrador resoluto na rabiça do arado, um laçador de fé, não tinha valor maior, a não ser, o orgulho pessoal....”

“....A ordem geral dos maiores centros do Pais irradiadores das modas, era:  mudar para melhor, evoluir, desenvolver, imitar as novas que vinham do além-mar europeu ou seguir  os moldes dos EUA – padrão USA – de qualquer maneira....”

“....O bonito era copiar tudo do estrangeiro: viver manifestações alienígenas; consumir, especialmente as sobras militares de guerra que os norte-americanos procuravam nos meter goela abaixo, juntamente com seus hábitos de vestir e suas expressões culturais, numa tentativa de desfigurar a nacionalidade do povo....”                                                                                                                                                                                                       

                                                                                                           (Paixão Cortês)

Esse era o quadro da década de 40, no País e no nosso Estado, bem resumido e de forma clara pelo Folclorista Paixão Cortês em seu livro “Origens da Semana Farroupilha e Primórdios do Movimento Tradicionalista Gaúcho”, e como se não bastasse as questões sociais e culturais tínhamos ainda as questões politicas, vivíamos uma realidade em que as culturas locais estavam sendo relegadas, o regime do Estado Novo implantado pelo Presidente Getúlio Vargas que fomentava uma só cultura, a Brasileira. Bandeiras dos Estados foram incineradas passando a valer somente a Bandeira Nacional, castrando a identidade das unidades federativas e consequentemente do ser regional. Nas escolas não se estudava a história do Rio Grande do Sul, nossa literatura, não se cantava o Hino Riograndense, e muito menos a nossa cultura era estudada e valorizada, tudo foi engavetado durante esse período de ditadura cultural. O Rio Grande estava amordaçado, sem condições de viver e cultuar suas tradições, sua história e a nossa maneira de ser, e principalmente o homem do campo totalmente esquecido...

E como se não bastassem as questões politicas vividas no Brasil nesta época, ainda tínhamos o fator do estrangeirismo que invadia nossos usos e costumes nos impondo um “modismo” totalmente adverso as culturas locais. Com o final da 2ª Grande Guerra e a vitória dos aliados sob o comando Americano, essa cultura foi lançada ao mundo e no Brasil não foi diferente.

- Calças de brim, Chiclé, Coca-Cola, Rock, eram alguns dos itens que despejavam sobre nossos jovens, tentando definitivamente engolir as culturas locais.

“Mas o Povo Gaúcho era diferente do contexto brasileiro, aqui não queimamos os Pavilhões Estaduais, apenas foram retirados dos mastros e armazenados de forma discreta contrariando as determinações superiores, sabíamos que um dia eles voltariam a ocupar o lugar merecido  e nossos intelectuais não desistiram de manter nossa cultura viva e mesmo amordaçados e com pouca repercussão continuaram promovendo os valores e cultura regionais.”

- Vivíamos agora 1947, forte campanha sacudia o País de ponta a ponta clamando pela volta das instituições democráticas e a realização de eleições livres. A juventude clamava por mudanças, politicas e culturais e neste cenário nacional o Rio Grande do Sul foi além das buscas politicas, alguém se preocupou com a retomada dos nossos valores, das nossas tradições e da nossa identidade cultural. Jovens, liderados por Paixão Cortês iniciaram o que seria mais adiante o maior movimento sociocultural que se tem conhecimento; O Movimento Tradicionalista Gaúcho. Nascia em meados deste ano o Departamento de Tradições Gaúchas da Escola Julio de Castilhos em Porto Alegre, os objetivos não eram políticos, mas sim culturais, RESGATAR AS TRADIÇÕES DO POVO GAÚCHO.

 

 

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