DECADA DE 40 – PANORAMAS DO ESTADO E
PAÍS
“....No meio rural, o homem
da campanha sabia até onde podia chegar, quando se aproximava da cidade: apeava
do pingo, tirava as botas, as esporas, a bombacha, lavava-se numa sanga, vestia
uma calça corrida, calçava um par de sapatos apertados e bicudos, que levava
escondido debaixo dos pelegos para entrar no povoado. O peão de estância era
pouco considerado, ser um bom ginete, um guasqueiro – artesão de qualidade – um
lavrador resoluto na rabiça do arado, um laçador de fé, não tinha valor maior,
a não ser, o orgulho pessoal....”
“....A ordem geral dos
maiores centros do Pais irradiadores das modas, era: mudar para melhor, evoluir, desenvolver,
imitar as novas que vinham do além-mar europeu ou seguir os moldes dos EUA – padrão USA – de qualquer
maneira....”
“....O bonito era copiar
tudo do estrangeiro: viver manifestações alienígenas; consumir, especialmente
as sobras militares de guerra que os norte-americanos procuravam nos meter
goela abaixo, juntamente com seus hábitos de vestir e suas expressões
culturais, numa tentativa de desfigurar a nacionalidade do povo....”
(Paixão Cortês)
Esse era o quadro da década de 40, no País e no nosso Estado,
bem resumido e de forma clara pelo Folclorista Paixão Cortês em seu livro
“Origens da Semana Farroupilha e Primórdios do Movimento Tradicionalista
Gaúcho”, e como se não bastasse as questões sociais e culturais tínhamos ainda
as questões politicas, vivíamos uma realidade em que as culturas locais estavam
sendo relegadas, o regime do Estado Novo implantado pelo Presidente Getúlio
Vargas que fomentava uma só cultura, a Brasileira. Bandeiras dos Estados foram
incineradas passando a valer somente a Bandeira Nacional, castrando a identidade
das unidades federativas e consequentemente do ser regional. Nas escolas não se
estudava a história do Rio Grande do Sul, nossa literatura, não se cantava o
Hino Riograndense, e muito menos a nossa cultura era estudada e valorizada,
tudo foi engavetado durante esse período de ditadura cultural. O Rio Grande
estava amordaçado, sem condições de viver e cultuar suas tradições, sua história
e a nossa maneira de ser, e principalmente o homem do campo totalmente
esquecido...
E como se não bastassem as questões politicas vividas no
Brasil nesta época, ainda tínhamos o fator do estrangeirismo que invadia nossos
usos e costumes nos impondo um “modismo” totalmente adverso as culturas locais.
Com o final da 2ª Grande Guerra e a vitória dos aliados sob o comando
Americano, essa cultura foi lançada ao mundo e no Brasil não foi diferente.
- Calças de brim, Chiclé, Coca-Cola, Rock, eram alguns dos
itens que despejavam sobre nossos jovens, tentando definitivamente engolir as
culturas locais.
“Mas o Povo Gaúcho era diferente do contexto brasileiro, aqui
não queimamos os Pavilhões Estaduais, apenas foram retirados dos mastros e armazenados
de forma discreta contrariando as determinações superiores, sabíamos que um dia
eles voltariam a ocupar o lugar merecido e nossos intelectuais não desistiram de manter
nossa cultura viva e mesmo amordaçados e com pouca repercussão continuaram
promovendo os valores e cultura regionais.”
- Vivíamos agora 1947, forte campanha sacudia o País de ponta
a ponta clamando pela volta das instituições democráticas e a realização de
eleições livres. A juventude clamava por mudanças, politicas e culturais e
neste cenário nacional o Rio Grande do Sul foi além das buscas politicas,
alguém se preocupou com a retomada dos nossos valores, das nossas tradições e
da nossa identidade cultural. Jovens, liderados por Paixão Cortês iniciaram o
que seria mais adiante o maior movimento sociocultural que se tem conhecimento;
O Movimento Tradicionalista Gaúcho. Nascia em meados deste ano o Departamento
de Tradições Gaúchas da Escola Julio de Castilhos em Porto Alegre, os objetivos
não eram políticos, mas sim culturais, RESGATAR AS TRADIÇÕES DO POVO GAÚCHO.
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