13 outubro 2024

GRUPO DOS 8

 

“PIQUETE  DA TRADIÇÃO” - O GRUPO DOS 8.

 

Ao organizar a “Ronda Gaúcha”, primeira ação do novo Departamento e como na programação estava prevista a retirada de uma Centelha do Fogo Simbólico da Pátria na noite de 7 de setembro, Paixão Cortês teve que solicitar essa permissão à Liga de Defesa Nacional, órgão governamental responsável pelos festejos da Semana da Pátria e que na época era presidida pelo Major do Exército, Darcy Vignoli.  O encontro foi com o próprio Presidente da Liga e de “viva voz” Paixão expos seus planos e programação para a “Ronda Gaúcha” na Escola Julio de Castilhos da Capital, o que foi de pronto bem aceito pelo Major concedendo a devida permissão para retirada da Centelha que permaneceria acesa na Escola até o dia 20 de setembro.

Ao deixar o Gabinete da Presidência, Paixão se deparou com o Secretário desta entidade, Dr. Fortunato Pimentel que tendo participado da reunião referendou o apoio do Presidente para a iniciativa e reforçou um pedido feito durante o encontro; conforme relatou no seu livro, Origem e Primórdios...

 “ ..... e reafirmou a solicitação anterior no sentido da nossa colaboração para organizar um piquete de gaúchos para acompanhar, desde a entrada da cidade até o Panteão Rio-grandense (localizado junto ao Cemitério da Santa Casa), os restos mortais do General farroupilha, David Canabarro, que seriam transladados da cidade de Santana do Livramento.  Fortunato queria dar um toque especial ao evento.....”

 (E esse “toque especial” que o Secretário imaginava, ele vislumbrou naqueles jovens estudantes que estavam se mobilizando para comemorar na Escola tradicionalmente e a moda gaúcha o aniversário da Revolução Farroupilha, já que esse translado de Livramento para Capital que fazia parte das comemorações da Semana da Pátria, mas por ser um vulto histórico ligado a Revolução Farroupilha a homenagem teria esse “toque especial”...)

 

 Essa foi a primeira e talvez a mais importante OPORTUNIDADE ofertada ao Movimento Tradicionalista, a chance daqueles jovens mostrarem não só para o universo da Escola, mas sim para toda população de Porto Alegre e Estado, em função da repercussão que teria na imprensa o evento cívico daquele 5 de setembro de 1947, a iniciativa de um grupo de estudantes para resgatar, preservar e valorizar as coisas da nossa terra, e Paixão Cortês ao aceitar  o desafio, mesmo sem saber, estava dando o primeiro e mais importante passo para o inicio do que hoje, quase chegando aos 80 anos, tornou-se o Movimento Tradicionalista Gaúcho.

- A programada “Ronda Gaúcha”, seria com certeza muito bem sucedida e teria uma boa visibilidade à nível local, mas dificilmente obteria a repercussão que teve em função do ato realizado no dia cinco de setembro daquele ano por oito jovens (Grupo dos 8) liderados por Paixão Cortêz. Esse ato levou para fora da Escola pelas mãos da imprensa, o que estava e iria acontecer naqueles dias de setembro, além de motivar e “incendiar” aqueles jovens que queriam fazer, apenas um pouco..., mas que terminaram fazendo muito...  pelo futuro das tradições do Rio Grande.

- Aceito o “desafio”, iniciaram-se os preparativos, tinham que conseguir cavalos e arreios, os campeiros seria fácil, pensava o Paixão, a maioria daqueles jovens da Escola eram oriundos do interior, tinham suas “pilchas”(vestimentas) guardadas e sabiam montar. Os cavalos de pronto foram conseguidos na cavalaria do Exercito, os arreios teriam que ser conseguidos e emprestados nos arredores da Capital, zona rural de Porto Alegre; com um jipe e motorista da Liga de Defesa e uma credencial assinada pelo seu Presidente, saíram em busca destes arreios e essa foi a primeira grande vitória do Movimento que nascia sem saber, A CONFIANÇA..., pessoas desconhecidas acreditaram nos apelos entusiasmados do jovem Paixão Cortes, e quatorze despretensiosos voluntários, os PRIMEIROS do Movimento..., emprestaram seus arreios sem saber ao certo o que estavam fazendo e se os veriam de volta...

Com cavalos e arreios conseguidos, era hora de reclutar quatorze campeiros dispostos à saírem montados pelas ruas da Capital e essa foi a primeira DECEPÇÃO do Movimento, a falta de coragem de alguns para enfrentar o desafio..., apenas oito, entre colegas, vizinhos e parentes, se encorajaram para façanha, “seis pares de arreios permaneceram tristemente no porão de uma casa na Rua Sarmento Leite (residência do Paixão)  por falta de quem os usasse naquele dia histórico”.

“PIQUETE DA TRADIÇÃO ou GRUPO DOS 8” - PAIXÃO CORTÊS (20anos), CYRO DUTRA FERREIRA (20anos), FERNANDO MACHADO VIEIRA (18anos), JOÃO MACHADO VIEIRA (20anos), ORLANDO DEGRAZZIA (18anos), CYRO DIAS DA COSTA (19anos), JOÃO SÁ  DE SIQUEIRA (19anos)  e CILÇO CAMPOS 23anos).

- O encontro foi marcado para o dia 05 de setembro de 1947 as 5:00 da madrugada na casa do Paixão (Rua Sarmento Leite), uns chegaram de “carro de praça” (taxi), outros de bonde, o meu Pai era vizinho, chegou de a pé. Reunidos foram separando os arreios, cada qual com o cuidado de não misturar as “coisas”, pois na devolução não poderiam entregar errado aos donos. ...O  Paixão comandava tudo ao seu estilo, gritos e gestos espalhafatosos demonstrando o nível da adrenalina..(conforme relato de Cyro Dutra Ferreira em seu livro, “35 CTG O Pioneiro”).

Os cavalos foram encilhados no Regimento Osório, na Av. Bento Gonçalves no bairro Partenon, com exceção do Paixão que havia conseguido um “Tubiano” emprestado e que estava no Parque de Exposições na Av. Getulio Vargas.  Dos seus destinos saíram pelas ruas da Capital causando espanto pelo inusitado naquele amanhecer de setembro e a pata de cavalo o Movimento Tradicionalista iniciava sua trajetória vitoriosa pelas rédeas de oito Pioneiros voluntários, os SEGUNDOS do Movimento...

O grupo que vinha do Quartel se encontrou com o Paixão numa esquina da Av. Ipiranga e seguiram pela Rua João Pessoa causando espanto e admiração das pessoas que nas calçadas aplaudiam sem saber do que se tratava...

“O sol acompanhava aquele piquete, mas um dos campeiros seguia de Poncho enfiado, Orlando Jorge Degrazzia ao perceber que Cyro Dutra Ferreira levava junto aos arreios um Poncho emalado, achou por bem de usa-lo, de pronto ocorreu o empréstimo e com a preocupação de expor tudo que fosse possível das tradições campeiras, seguiu pelas ruas da Capital num dia ensolarado vestindo o companheiro inseparável do campeiro nos dias de chuva e friu, (esse Poncho permanece até os dias de hoje em meu poder).  

 

Mas esta não foi a única demonstração de “campeirismo” e ímpeto idealista de mostrar as tradições, logo mais adiante um acidente normal para os homens de a cavalo viria mostrar a destreza e habilidade de um dos nossos Pioneiros, causando espanto e arrancando aplausos das pessoas que acompanhavam aquele momento inusitado para época, e essa foi a primeira demonstração de habilidade campeira, civismo e seriedade do Movimento.

- Após o encontro com o Jipe que trazia a urna com os restos mortais do Gal, Davi Canabarro, em função da velocidade que vinha a viatura, obrigou o piquete a “atropelar seus Pingos”, e ao dobrar uma esquina, no paralelepípedo escorregadio ocorreu uma “planchada” da égua do Cilço Campos, o que poderia ter sido um grave acidente e de certa forma um vexame para aqueles jovens campeiros, teve um final surpreendente para os assistentes, Cilço, que carregava o Pavilhão Nacional, como bom campeiro, preocupado em sair ileso da queda e com a bandeira que carregava sem perder o controle da montaria, foi surpreendido por um companheiro que vinha mais atrás e atropelou seu cavalo passando pelo [1]entrevero e de pronto agarrou o mastro saindo lá na frente com a missão cumprida, não permitir que o Símbolo maior da Pátria caísse ao chão. Enquanto isso, o campeiro Cilço saia em pé e de rédeas na mão;  foi só o tempo de aprumar a Égua e montar novamente para seguir no cortejo tradicionalista sob os aplausos dos curiosos que assistiam.

- Esse talvez tenha sido uns dos principais momentos para o sucesso do Movimento que nascia naquele dia, se tudo tivesse dado errado, a Bandeira e o Campeiro caindo ao chão e a Égua disparando de volta ao Quartel, no dia seguinte as manchetes jornalísticas seriam totalmente negativas a respeito do episódio. Porem o que ocorreu foi exatamente o contrário, o enaltecimento da habilidade e demonstração de que aqueles 8 cavaleiros sabiam o que estavam fazendo nos deu o primeiro voto de credibilidade da opinião pública.

 

 

Outro grande momento deste dia histórico de 1947, foi o encontro do Piquete da Tradição com BARBOSA LESSA na Praça da Alfandega, estudante de jornalismo, “curioso” e sem saber o que estava acontecendo, se dirigiu ao grupo e naquele momento se integrou ao Movimento Tradicionalista, se tornando um dos ícones da nossa trajetória em defesa  das Tradições Gaúchas.  

- Agora eram 9 os iniciantes do Movimento, 8 de a cavalo e um de a pé registrando tudo no seu “caderninho” onde anotava tudo..., os primeiros registros do início do Movimento.

( ...após esse dia, nunca mais os oito que saíram a cavalo  conseguiram se reunir, sempre faltava um ou dois, todos seguiram seus caminhos de vida e afazeres, e mesmo nos encontros para formação do 35 CTG sempre faltava alguém; permaneceram atuantes no Movimento até seus últimos dias, apenas  o Paixão Côrtes , Cyro Dutra Ferreira e Barbosa Lessa;  mas isso não diminuiu o feito histórico dos demais que já tinham deixado os seus legados encravados no Tradicionalismo Rio-grandense e são constantemente lembrados e reverenciados por isso... )

- Hoje mais de 75 anos passados, nenhum deles esta mais entre nós, todos já partiram para outros planos,  mas com certeza continuam olhando pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho,  que mesmo sem saber,  iniciaram naquele 05 de setembro de 1947 a “pata de cavalo” , como não poderia ter sido diferente em se tratando de jovens campeiros preocupados em preservar essa identidade nativa.

PS. Uma vez ouvi do meu Pai, que o Paixão poderia ter optado apenas por irem alguns representantes “pilchados” acompanhar as cerimônias do translado, é claro que teria a mesma importância para o inicio do Movimento, porem o fato de ter aceito o desafio de irem a cavalo, mostrando os costumes campeiros do gaúcho e somando-se ao fato da maioria dos primeiros seguidores serem oriundos do campo, norteou o Movimento Tradicionalista para o culto das tradições campeiras, reverenciando o nosso homem do campo com seus usos e costumes, alem

 

de ter dado maior repercussão na imprensa, o que foi de suma importância para o inicio da caminhada tradicionalista.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

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